Por Marco Dassori / Jornal do Commercio
As famílias de Manaus ficaram ainda mais dispostas a comprar, em agosto. Os dados locais da CNC (Confederação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo) para o indicador de ICF (Intenção de Consumo das Famílias) revelam um 14º avanço consecutivo para a capital amazonense, em ritmo novamente superior ao da média nacional, e puxado pelos consumidores de baixa renda. No mês do Dia dos Pais, foram registradas melhoras na percepção sobre renda e emprego. Mas, a disposição de adquirir bens duráveis perdeu ímpeto, apesar da avalição positiva para o acesso ao crédito.
O ICF de Manaus marcou 91,5 pontos neste mês, 5,1% a mais que em julho (87,1 pontos), e mais que o dobro da marca de 12 meses atrás (42,7 pontos). O indicador ainda não saiu da zona de insatisfação (de 0 a 100 pontos), onde permanece há 42 meses, e segue abaixo do nível atingido no início da pandemia – março de 2020 (105,2 pontos). O ganho de otimismo foi maior entre as famílias de renda abaixo dos dez salários mínimos (+5,6%), embora estas ainda sigam sob a marca da desconfiança (86,7 pontos). O avanço para os consumidores mais abastados (141,6 pontos) foi mais baixo (+1,8%), mas estes já estão “confiantes” desde novembro de 2022.
Manaus voltou a ter alta mais forte do que o da média nacional, embora esta ainda conte com pontuação mais elevada. Em todo o Brasil, o indicador marcou expansão mensal de 1,4% e finalmente entrou no quadrante positivo de confiança (101,1 pontos). A última vez que a intenção de compras esteve na zona otimista foi em abril de 2015 (102,9 pontos). No confronto com agosto de 2022, houve nova escalada de dois dígitos (+23,1%). A CNC destaca que os resultados do ICF nacional apontam “crescimento consistente” desde janeiro do ano passado.
Em Manaus, a nova alta de intenção de consumo soma-se à quarta redução consecutiva dos números locais da Peic (Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor), medido pela mesma entidade. Mas, a despeito da melhora, as compras seguem embarreiradas pelo comprometimento de renda de 85,8% (563.198) das famílias da capital com contas antigas, sendo que 40,3% (264.248) estão inadimplentes. Já o ICEC (Índice de Confiança do Empresário Comercial), também da CNC, emplacou seu segundo mês seguido de discreta melhora no otimismo do setor, que indica maior disposição de contratar e investir, embora as perspectivas sigam turvadas.
Renda e emprego
O ICF de Manaus avançou novamente em seis de seus sete componentes, na variação mensal. Mas, apenas dois deles já estão no nível de satisfação, ambos ligados à vida profissional. As melhores taxas de crescimento vieram do nível de consumo (+10,7%) e renda atuais (+7,8%), assim como das perspectivas de consumo (+8,5%). Já as percepções sobre as condições de emprego atual (+5,7%), acesso ao crédito (+3,8%) e perspectiva profissional (+2,4%) subiram em ritmo bem menor. O dado negativo veio do “momento para duráveis” (-0,9%)
O entendimento sobre o nível de consumo atual ainda é o principal fator que puxa a média de Manaus para baixo. Apesar dos aumentos seguidos, o subindicador ainda aparece com o pior escore da lista (64,8 pontos) – embora as famílias com renda acima de dez mínimos tenham pontuação mais que duas vezes maior (136,7 pontos). Na média, nada menos do que 58,6% das famílias estão indo menos às compras do que no ano passado, enquanto 23,4% já dizem que estão comprando mais e 16,5% não veem diferença.
A perspectiva de consumo (98,3 pontos) já encosta na linha divisória da satisfação, assim como a avaliação sobre a renda familiar atual (91,2 pontos). A fatia de famílias de Manaus que esperam compras menores nos próximos meses (39,4%) se mantém majoritária, mas voltou a cair e se aproxima do grupo que aposta em cenário inverso (37,7%). Em torno de 19,2% aguardam estabilidade. Em paralelo, um percentual cadente de 37,5% diz que a renda familiar piorou em relação ao cenário de econômico de 12 meses atrás. Uma fatia crescente enxerga melhora (28,7%) e 33% consideram que está igual.
Na outra ponta está avaliação sobre a perspectiva profissional (105,4 pontos). A fatia de consumidores que preveem melhora nos próximos seis meses (46,2%) aumentou sua vantagem em relação aos que têm opinião contrária (40,8%), mas o percentual de indecisos (13%) também subiu. O mesmo se dá sobre a situação atual do emprego (107,1 pontos). O grupo dos que se sentem “mais seguros” profissionalmente (32,8%) já supera o dos que se dizem “menos seguros” (25,8%), ao passo que 22,2% entendem que está igual. A cota de desempregados estabilizou em 19%.
Em termos de situação atual do crédito (88,9 pontos), 42,6% consideram que o acesso ainda está mais difícil do que no ano passado. Em contrapartida, 31,4% já apontam que ficou mais fácil e 22,1% não veem diferença. Apesar do Dia dos Pais, o “momento de aquisição de bens duráveis” (85,1 pontos) caiu e 53,4% ainda consideram que esta não é a melhor hora para isso. O grupo dos confiantes nas compras recuou para 38,5%. As dificuldades e cautelas ainda predominam entre as famílias de menor renda.
“Retomada plena”
Em entrevistas recentes à reportagem do Jornal do Commercio, o presidente em exercício da Fecomércio-AM, Aderson Frota, ressaltou que a intenção de compras está aumentando “em pequena escala” e que a renda “ainda deixa muito a desejar”, em face de um endividamento alto. O dirigente assinalou, contudo, que a agenda econômica do país já apresenta pontos positivos que podem contribuir para uma melhora de cenário, como a aprovação da âncora fiscal do governo federal, a sinalização de um ciclo de baixas na Selic, e o corte nos cadastros negativados pelo programa Desenrola.
Em âmbito nacional, o ICF mostrou crescimentos mais acentuados para nível de consumo atual e o acesso e uso do crédito. No texto distribuído pela assessoria de imprensa da CNC, o presidente da entidade, José Roberto Tadros, se mostrou mais confiante. “A pesquisa sinaliza uma retomada plena do otimismo das famílias em relação às suas perspectivas de consumo”, sintetizou, pontuando que todos os indicadores da pesquisa vêm demonstrando tendência de recuperação, ao longo do ano.
No mesmo texto, a economista Izis Ferreira destaca que a satisfação com o emprego atual fornece maior segurança para compras a prazo, embora o ritmo de contratações formais tenha perdido intensidade. Outro efeito positivo vem da constatação de que a inflação anual do IPCA está quatro vezes menor. Ela pondera, contudo, que a desaceleração dos juros ainda não é suficiente para se contrapor à elevada taxa de endividamento do consumidor, que limita a capacidade de compras e os benefícios do aumento da renda disponível. “Nesse contexto, as vendas no varejo ainda enfrentam dificuldades para manter um crescimento uniforme entre os diferentes segmentos”, concluiu.