Fonte: Jornal do Commercio
Repórter Marco Dassori
O setor de turismo do Amazonas torce para uma
solução para a crise sanitária que brecou a continuidade da Temporada de
Cruzeiros, neste ano. Fontes ouvidas pela reportagem do Jornal do
Commercio estimam que um eventual cancelamento será mais um duro golpe
na atividade. A retomada das operações dos navios de cruzeiro já foi
autorizada pela Portaria Interministerial 658, da Casa Civil e dos
Ministérios da Justiça e Segurança Pública, Saúde e Infraestrutura.
Publicada nesta quarta (5), a norma dispõe sobre restrições e medidas
temporárias para a entrada no país, em decorrência da pandemia. Mas, a
medida só valeria para viagens pela costa brasileira – o que não inclui o
Amazonas.
Enquanto isso, a escalada dos casos de covid-19 pela variante ômicron
prossegue nas embarcações em questão. Mesmo com a suspensão temporária
da operação de navios de cruzeiros nos portos brasileiros, anunciado
pelas operadoras na segunda (3), após a recomendação da Anvisa (Agência
Nacional de Vigilância Sanitária) para suspender a temporada, os cinco
navios que estão em águas territoriais já reportaram 222 casos positivos
para covid-19 a bordo das embarcações. Os dados são da última
atualização do monitoramento feito pela Anvisa, divulgado na noite de
terça (4), e citados em matéria da Agência Brasil.
O presidente do Sindhotéis (Sindicato de Hotéis, Restaurantes, Bares e
Similares do Estado do Amazonas), Paulo Tadros, considera que o
cancelamento da Temporada dos Cruzeiros em si não gera impactos diretos
no segmento, já que os turistas em questão não se hospedam nos hotéis e
permanecem nos navios. Mas, não deixa de apontar que há um impacto
significativo para a economia do Estado e de sua capital, já que os
cruzeiros geram um “movimento comercial grande” para o turismo e para o
varejo.
“Há um impacto muito grande. Não só pelo lado do turista, que consome
alguma coisa por aqui, visita alguns pontos da cidade e gera ganhos
para os agentes de viagens e guias de turismo. Mas, o impacto maior é
para o varejo de Manaus, que é maior cidade no roteiro. A tripulação e
os passageiros dos navios compram muita coisa do comércio da cidade,
para poder continuar a viagem. Eles se abastecem nos supermercados e em
uma série de lojas. E isso vai deixar de circular na capital”, lamentou.
Apesar do reduzido impacto direto para a hotelaria, Paulo Tadros, que
também é vice-presidente da Fecomercio-AM (Federação do Comércio de
Bens, Serviços e Turismo do Estado do Amazonas), avalia que trata-se de
mais uma má notícia a turvar o setor. O dirigente avalia que 2021 já foi
um “ano catastrófico” para o panorama da hotelaria do Estado, pois os
hotéis não estavam impedidos de funcionar, mas não havia hóspedes e “o
movimento que existiu foi insignificante”. Diante da permanência das
incertezas no cenário do setor, o dirigente prefere também não fazer
prognósticos sobre 2022.
“Foi um ano praticamente nulo: sem voo e com as pessoas com medo. Já
começou alguma coisa de viagens, mas está muito baixo. Sobre 2022,
ninguém sabe. Estava todo mundo preparado com os navios e agora, isso.
Tudo vai depender de como vai se dar essa situação sanitária, se vai dar
tranquilidade de estar tudo aberto, ou se as pessoas vão ficar com
medo. Estamos entrando em uma terceira onda e fica difícil ter uma
previsão. Infelizmente ninguém tem expectativas, por conta dessas
mudanças na pandemia”, desabafou.
Exagero e protocolos Já o presidente da ABAV-AM (Associação Brasileira de Agências de
Viagens – Seção Amazonas), Jaime Mendonça Jr, destaca que o virtual
cancelamento da Temporada dos Cruzeiros vai prejudicar
significativamente o segmento. Em suas considerações, o dirigente
reforça que a nova variante “é muito transmissível”, embora também seja
“mais fraca que as outras”. “Tivemos mais de 2 milhões de infectados,
nesta terça [4], mas ninguém fala de mortes. Muita gente está protegida e
a vacina protege das formas mais graves da doença”, frisou.
O presidente da ABAV-AM lembra ainda que há um protocolo para
embarque nos navios, que inclui testagem e comprovante de vacina e que a
reação aos surtos de covid-19 pela ômicron está sendo “exagerada”.
“Pode ter ocorrido que alguém entrou na embarcação e estava em um
estágio muito inicial da doença, que o teste não detectou. Se você
analisar que os navios que estão com 60% de ocupação, no máximo. Ter 50
pessoas dentro de um contingente de mais de 3.000, é muito pouco. E o
passageiro fica em sua cabine, até estar curado. Não estou negando a
importância, mas acho que há exagero”, opinou.
Jaime Mendonça Jr avalia que 2021 foi um ano “desafiador”, embora
também tenha sido de retomada, especialmente no segundo semestre. O ano
passado também teria beneficiado mais o turismo nacional, em detrimento
do internacional, tanto no turismo receptivo, quanto no emitivo. Vários
fatores contribuíram para isso, especialmente o câmbio – que encareceu
as viagens para os brasileiros – o medo decorrente da pandemia. Pelo
mesmo motivo, o dirigente aponta que 2022 é incerto, embora ainda aposte
em crescimento.
“Os níveis de faturamento das agências sofreram uma retração média de
75%, em relação ao período pré-pandemia. Para o setor receptivo, foi
mais desastroso. Com tudo o que aconteceu [na primeira e na segunda
ondas], a imagem de Manaus e do Amazonas ficou muito arranhada
internacionalmente. Para o turismo internacional voltar, vamos precisar
fazer uma campanha de imagem positiva, mostrando que estamos em outro
janeiro e que estamos em outra ‘pegada’”, ponderou.
Atuação oficial Em nota, a Amazonastur (Empresa Estadual de Turismo do Amazonas),
órgão responsável por oficialmente gerir a Temporada de Cruzeiros no
Estado desde 2003, informou que está aguardando a publicação de nova
portaria interministerial para que seja autorizada a continuidade da
programação para 2022. O órgão lembra que o governo estadual destaca a
obrigatoriedade das recomendações dos órgãos de vigilância em saúde, no
intuito de preservar a população. Reforça também que as estratégias de
vacinação no Estado estão sendo fortalecidas com campanhas e medidas de
busca ativa da população.
Segundo a Amazonastur, atualmente a portaria nº 658 de 5 de outubro
de 2021 do governo federal autoriza apenas o transporte aquaviário de
passageiros, brasileiros ou estrangeiros, exclusivamente na costa
brasileira, o que não é o caso dos cruzeiros provenientes dos Estados
Unidos e Caribe que adentram o estado. Em virtude disto, houve o
cancelamento de cinco navios que trariam 9.334 visitantes ao estado em
janeiro desde ano.
“A Amazonastur continua atuando oficialmente junto ao Ministério da
Saúde para viabilizar as operações dos seis navios que estão previstos
para ancorar no Amazonas a partir de março 2022, conforme dados das
operadoras de turismo. Juntos, eles somam um total de 7.301 visitantes
(entre passageiros e tripulantes), com a previsão de movimentar US$ 602
mil (R$ 3.389.440,60) no Estado”, assinalou a nota. Vale notar que o
montante é 67,48% inferior ao da temporada de 2019/2020, na medida em
dólar.