Por Rodemarck de Castello Branco
O protagonismo do comércio é ancorado pela sua capacidade de geração de emprego e renda, contribuição à acumulação de capital local, participação no valor agregado regional e distribuição capilar no espaço urbano. É indubitável a sua simbiose com a cidade, tão bem ilustrada pela expansão comercial ao longo dos novos eixos viários e das diversas sub-regiões da cidade.
Ademais, as organizações comerciais têm que agir como uma Fênix, num eterno renascimento adaptativo às mudanças nos padrões de consumo e no ambiente de negócios. Nesse contexto, é descabido que o comércio seja considerado uma atividade econômica passiva, quando é ferramenta essencial no planejamento urbano, na promoção do empreendedorismo e no dinamismo da economia local.
A fim de mergulhar na compreensão do ciclo de vida das empresas comerciais, iremos embarcar em um passeio pela cidade de Manaus, em busca de lojas emblemáticas durante as décadas de 1960 e 1970. Ao revisitar o passado, surgem nas lembranças empresas como o J G. Araújo (com lojas especializadas em tecidos, ferragens, motores marítimos, drogaria e o Pague e Leve), Lobrás, S. Monteiro, Credilar, Lojas Populares, Credi Alves, Mundo dos Moveis, Livrarias Acadêmica, Colegial e Escolar, Sapatarias Limongi e Moderna, Palácio da Moda, Casa Goulart, Esquina das Sedas, Marabá, Chico Preto, Dragão dos Tecidos, Disco de Ouro, Novodisco, Casa Mansour, 22 Paulista, Ferragens União e Andrade Santos, Brumel, Capri, Pernambucana, Mesbla, Belmiros, Icofilm, Favorita, Joelharia Biasi, Drogaria Lemos, entre outras. Ao encerrar esse tour nostálgico, será inevitável constatar que essas lojas não conseguiram sobreviver até os dias atuais.
Sobreviveram e prosperaram as empresas comerciais, dentre as existentes nos anos 1960 e 1970, que se adaptaram aos novos padrões de consumo e às mudanças demográficas da cidade de Manaus. Destacam-se a Bemol, a TV Lar, a Foto Nascimento e a Ótica Especialista. Além delas, podem ser citadas algumas poucas lojas de menor porte, frequentemente sendo administradas pelos membros da família fundadora, como Casa Montemurro, Casa Síria, Ferragem Ancora e Livraria Nacional, entre outras.
A globalização e a tecnologia estão reconfigurando os setores de comércio atacadista de varejista, através da digitalização dos canais de venda, adoção de Inteligência Artificial para interação com os clientes e gestão empresarial, além da expansão dos marketplaces. Essas mudanças têm expandido o espaço geográfico da concorrência.
Em um passado não muito distante, quando questionados sobre seus concorrentes, os empresários costumavam mencionar os estabelecimentos locais, destacando aqueles situados na área geográfica de influência do seu negócio. Contudo, atualmente, a resposta seria “o mundo”. Os concorrentes podem ser empresas como a Shein, uma gigante chinesa de vendas on line, assim como inúmeras outras lojas presentes em plataformas como Amazon, Magalu, Americanas e Mercado Livre.
Apesar da intensificação da concorrência com a entrada de varejistas nacionais na cidade de Manaus, diversos grupos empresariais locais estão ampliando suas atividades e ganhando maior participação no mercado. Isso se deve aos avanços conquistados em termos de competitividade, por meio da implementação de tecnologias gerenciais avançadas, da abertura de lojas físicas, do conhecimento de mercado, da agilidade na tomada de decisões e do aprimoramento dos recursos humanos.
Essas melhorias na eficiência empresarial criam condições favoráveis para a expansão geográfica dos negócios, evidenciando que uma concorrência acirrada no mercado contribui para o fortalecimento de grupos empresariais locais. Essa condição é de extrema importância em um ambiente de seleção natural das organizações.